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A EUROPA RENASCENTISTA

Líderes

O Renascimento

O Renascimento foi um importante movimento de ordem artística, cultural e científica que se deflagrou em uma transição dos valores e das tradições medievais para um mundo totalmente novo, em que os códigos tradicionais cedem lugar à afetação burguesa, às novas máscaras sociais desenvolvidas pela burguesia emergente. Em um quadro de sensíveis transformações que não mais correspondiam ao conjunto de valores apregoados pelo pensamento medieval, o renascimento apresentou um novo conjunto de temas e interesses aos meios científicos e culturais de sua época. Ao contrário do que possa parecer, o renascimento não pode ser visto como uma radical ruptura com o mundo medieval.

Esta importante etapa histórica predominou no Ocidente entre os séculos XV e XVI, principalmente na Itália, centro irradiador desta revolução nas artes, na literatura, na política, na religião, nos aspectos sócio-culturais. Deste pólo cultural o Renascimento se propagou pela Europa, especialmente pela Inglaterra, Alemanha, Países Baixos e com menos ênfase em Portugal e Espanha.


O Renascimento toma com o inspiração os antigos valores greco-romanos, retomados pelos artistas que vivenciaram a decadência de um paradigma e o nascimento de um universo totalmente diferente. Este movimento representou, portanto, uma profunda ruptura com um modo de vida mergulhado nas sombras do fanatismo religioso, para então despertar em uma esfera materialista e antropocêntrica. Agora o centro de tudo se deslocava do Divino para o Humano, daí a vertente renascentista conhecida como Humanismo.

Na sociedade desenvolviam-se rapidamente instâncias políticas intensamente centralizadas, uma economia de âmbito urbano e de natureza mercantil, e florescia o mecenato – surgimento de mecenas, ou seja, patrocinadores das artes, dos criadores.

Na vertente humanista da Renascença, o Homem é a peça principal, agora ocupando o lugar antes impensável do próprio Criador. Este aspecto antropocentrista se prolonga por pelo menos um século em toda a Europa Ocidental. Este movimento privilegia a Antiguidade Clássica, mas não se limita a reproduzir suas obras, o que reduziria sua importância. Seus seguidores recusavam radicalmente os valores medievais e para alcançar esse objetivo usavam a cultura greco-romana como o instrumento mais adequado para a realização de suas metas.

A aproximação do Renascimento com a burguesia foi claramente percebida no interior das grandes cidades comerciais italianas do período. Gênova, Veneza, Milão, Florença e Roma eram grandes centros de comércio onde a intensa circulação de riquezas e ideias promoveram a ascensão de uma notória classe artística italiana. Até mesmo algumas famílias comerciantes da época, como os Médici e os Sforza, realizaram o mecenato, ou seja, o patrocínio às obras e estudos renascentistas. A profissionalização desses renascentistas foi responsável por um conjunto extenso de obras que acabou dividindo o movimento em três períodos: o Trecento, o Quatrocento e Cinquecento. Cada período abrangia respectivamente uma parte do período que vai do século XIV ao XVI.

Rupturas do modelo tradicional

A idade Média foi reconhecida como a “Idade da Fé”, e no período medieval se estabelece a consolidação do cristianismo no interior de toda a Europa.

Neste período, a Igreja passou a ser portadora de uma doutrina oficial que deveria ser disseminada por um corpo de representantes espalhados em toda a Europa. No ano de 455, o bispo de Roma se tornou papa, passando a controlar a cristandade ocidental.

Com isso, a Igreja defendeu a ordem social estabelecida argumentando que o mundo feudal refletia, de fato, os desígnios de Deus para com os seus devotos.

Paralelamente, podemos assinalar que outros dogmas, como o medo da morte, do pecado e do inferno, eram de grande importância para o comportamento do homem medieval. A utilização de imagens sagradas também serviu como um importante instrumento didático para inculcar os valores de subserviência e temor ligados ao pensamento cristão. Tais ações sistemáticas foram importantes para que o número de fiéis abnegados atingisse números expressivos.

Sem dúvida, toda essa série de práticas, valores e ações foram determinantes na transformação da Igreja em uma instituição com amplos poderes. Desde sua gênese, percebemos que o cristianismo teve que negociar com os vários hábitos e crenças das civilizações pagãs, caso quisesse ampliar o seu número de convertidos.

Mesmo antes do Renascimento, a hegemonia da Igreja Católica esteve diversas vezes ameaçada pela organização de seitas (consideradas como heresias) que buscavam valores não suportados pela doutrina oficial. No século XI, as dissidências com os líderes da Igreja Oriental culminaram no Cisma do Oriente, fato que deu origem à Igreja Católica e à Igreja Bizantina. Nos fins da Idade Média, movimentos heréticos fixaram as bases de outras tensões que marcaram a Reforma Protestante, no século XVI.

A passagem de um período não pressupõe o abandono radical de certas formas de agir e pensar por outras completamente inéditas. Observando as experiências com maior cuidado, é possível compreender que a passagem do mundo e dos valores medievais para o novo cenário proposto na Renascença pode se mostrar ainda repleta de práticas depositadas no passado. Ou seja, os homens de um tempo nunca abandonam radicalmente aquilo que um dia se fez presente no desenrolar de sua história. Na verdade, este período é marcado pela continuidade e as rupturas que – coexistindo, estabelecem um sentido equilibrado à experiência renascentista.

Novas idéias

Por meio de uma série de fatores de ordem econômica, política, religiosa e cultural, muitas contradições levaram o povo europeu do século XV a encarar a vida com um certo ceticismo. Estes, em confronto com facções dogmáticas, ocuparam o palco da discussão filosófica predominante nas recém-criadas universidades (estabelecimentos oficiais de ensino). Ali parecia ser possível falar sobre todas as coisas tendo como autoridades orientadoras a Bíblia, os santos (padres canonizados) ou os filósofos que serviram como suporte para justificar a fé. Os debates travados pareciam conter algo de realmente inteligível; no entanto, o homem começou, por isso, a se afastar de si mesmo, de Deus e do mundo em que vivia, pois as conclusões dos raciocínios muitas vezes se chocavam com a realidade (assim como a mitologia grega!). Era preciso que o homem desafiasse as leis e as autoridades tradicionais para buscar reconstruir seu quadro de referências, visando substituir ou transformar seus conceitos sobre o mundo e sobre si mesmo.

O povo europeu, como um todo, estava mergulhado em uma época em que novas ideias se chocavam com a estrutura tradicional, e suas convicções sociais, políticas e religiosas estavam sendo intensamente questionadas.

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